Fórum de Davos não escapa de tensões geopolíticas e greenwashing da indústria fóssil

Fórum de Davos 2023
Reprodução Twitter @MarinaSilva

O balanço final da edição de 2023 do Fórum Econômico Mundial, a primeira “normal” desde a pandemia de COVID-19, foi frustrante. Se praticamente todos os líderes políticos e econômicos que foram à Davos repetiram suas preocupações com a crise climática e a necessidade de acelerarmos a transição energética, poucos foram os sinais de que isso está saindo do papel. Ou seja, eis o velho “ouçam o que eu digo, não vejam o que eu faço”.

Em parte, a confusão que tomou conta de Davos está relacionada com as tensões geopolíticas que consumiram recursos e atenção internacional no último ano – em especial, a guerra entre Rússia e Ucrânia. Mas o Fórum Econômico Mundial também serviu para evidenciar outro tipo de tensão, esta diretamente ligada à questão climática: as desavenças entre Estados Unidos e Europa sobre a política industrial de promoção da economia verde.

Depois da União Europeia sinalizar uma resposta institucional aos incentivos norte-americanos para a indústria de tecnologia verde, o Reino Unido colocou a boca no trombone nesta 5ª feira (19/1) e criticou durante os planos do governo Biden para subsidiar a produção de carros elétricos e outros equipamentos de energia limpa nos EUA às custas de outros fabricantes de fora do país.

“É muito importante não cairmos no protecionismo e é aí que, nas bordas, a Lei de Redução da Inflação nos EUA é perigosa porque pode cair no protecionismo”, argumentou o secretário de negócios do Reino Unido, Grant Shapps, citado pela Bloomberg. “Não é sua intenção, não acho que seja necessariamente para onde está indo, mas se não for alterado, acho que é aí que temos que ter muito cuidado”.

Enquanto ficam trocando cotoveladas, as grandes potências não levaram nada novo sobre o enfrentamento à crise climática em Davos e, nesse sentido, a presença maciça de executivos da indústria petroleira não ajudou.

Mais uma vez, a juventude ativista assumiu o papel de “canário na mina” e puxou a orelha dos figurões da política e da economia global.

“Enquanto eles [Big Oil] conseguirem se safar, continuarão investindo em combustíveis fósseis e continuarão jogando as pessoas debaixo do ônibus”, reclamou Greta Thunberg durante conversa com o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), Fatih Birol, em Davos. Ela foi ainda mais seca ao comentar a indicação do executivo do petróleo Ahmed al-Jaber para a presidência da COP28. “[Isso] é completamente ridículo”.

AFP, Associated Press, CNBC, Folha, Guardian e Reuters repercutiram as falas de Greta.

 

ClimaInfo, 20 de janeiro de 2023.

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