Abordagem pró-fósseis na COP28 é “perigosa” para negociações climáticas, alerta ex-chefe da UNFCCC

COP28 Christiana Figeres
Jeffrey Arguedas/EPA

A ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, Christiana Figueres, deixou evidente sua frustração com os rumos propostos pelos Emirados Árabes Unidos para a próxima COP28, programada para acontecer em Dubai no final de novembro. Para Figueres, uma das arquitetas do Acordo de Paris, a abordagem dos futuros anfitriões da COP é “muito perigosa” e uma “ameaça direta à sobrevivência das nações vulneráveis”.

Os comentários foram feitos durante uma participação no podcast Outrage and Optimism. A crítica principal de Figueres está no foco que o próximo presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, quer dar às tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), em detrimento do fim do consumo de combustíveis fósseis como caminho para evitar mudanças climáticas mais profundas.

“Então ele [Al-Jaber] está tentando dançar em duas pistas ao mesmo tempo. Ele está tentando dizer: ‘Olha, aqueles de nós que são produtores de combustíveis fósseis serão responsáveis por nossas emissões por meio da captura e armazenamento aprimorados de carbono. E nós, ou a presidência da COP, também apoiaremos as alternativas de carbono zero’”, disse Figueres, citada pelo Guardian.

A observação da ex-chefe da UNFCCC faz sentido. Al-Jaber, além de presidente designado da COP28, também é CEO de uma das maiores petroleiras estatais do planeta, a ADNOC. Desde o começo do ano, quando o nome dele foi anunciado pelos Emirados Árabes, ativistas climáticos e especialistas apontam para o conflito de interesses de ter um executivo da indústria petroleira no comando das negociações climáticas da ONU.

Desde então, Al-Jaber vem se manifestando no sentido de incluir o setor de óleo e gás nas conversas para a COP28, inclusive articulando uma aliança de empresas comprometidas em atingir a neutralidade de suas emissões diretas (que compõem uma parte ínfima das emissões associadas à queima de combustível fóssil) em 2050.

“O fato de ele pensar que a energia fóssil usada hoje continuará a fazer parte do mix global de energia no ‘futuro previsível’, pode fazer sentido do ponto de vista dos Emirados Árabes. Mas, do ponto de vista da presidência de uma COP, eu simplesmente não vejo a maioria dos países, e certamente não os países vulneráveis, dispostos a apoiar um presidente da COP nessa agenda, já que ela é uma ameaça direta à sua sobrevivência”, destacou Figueres.

Em tempo 1: O convite dos Emirados Árabes ao ditador da Síria, Bashar Al-Assad, para participar da COP28 foi mal-recebido em outros países. Segundo o jornal The Telegraph, o governo do Reino Unido indicou que pode rever sua participação na Conferência em virtude da presença de Al-Assad, acusado de crimes contra a humanidade durante a guerra civil que se arrasta em seu país desde 2011. CNN, Reuters e Sky News repercutiram a notícia.

Em tempo 2: A Folha entrevistou a embaixadora da França junto à OCDE, Amélie de Montchalin, que esteve no Brasil para convidar o presidente Lula para uma cúpula internacional no mês que vem em Paris dedicada especialmente à reforma do sistema financeiro internacional em favor do financiamento climático. “É um assunto no qual sabemos que o presidente Lula tem muito interesse, porque temos a percepção comum de que, se queremos atingir nossos objetivos em termos de desenvolvimento humano, luta contra a pobreza, transição climática e proteção da biodiversidade, o funcionamento atual do sistema financeiro global não é o correto”, assinalou.

ClimaInfo, 17 de maio de 2023.

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