ClimaInfo, 11 de março de 2019

ClimaInfo mudanças climáticas

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O pior cenário para a mudança climática é a interrupção da circulação termohalina

Da nossa série sobre o básico da ciência do clima: os impactos das mudanças climáticas não se restringem às grandes secas e inundações; a interrupção da circulação termohalina pode provocar uma extinção maciça da vida no planeta Terra.

 

Agrotóxicos e agricultura intensiva dizimam abelhas aqui e na Alemanha

400 milhões de abelhas morreram em apenas três meses no Rio Grande do Sul,  50 milhões em Santa Catarina, 45 milhões no Mato Grosso do Sul e mais 7 milhões em São Paulo, somando quase meio bilhão de abelhas mortas. Segundo investigação da A Pública, as armas do crime foram os agrotóxicos à base de neonicotinoides e o Fipronil, um produto proibido na Europa há mais de uma década. No município gaúcho de Cruz Alta, morreram mais de 100 milhões. Segundo Salvador Gonçalves, presidente da associação de apicultores, “apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã e, à tarde, as abelhas já começam a aparecer mortas”. A matéria conta que a aplicação aérea de alguns agrotóxicos chegou a ser proibida para proteger as abelhas, mas que a pressão de produtores conseguiu cancelar a proibição. O problema é agravado porque 20% da pulverização atinge áreas fora da lavoura, segundo informa a Embrapa, o que, pelo jeito, leva os agricultores a aplicar ainda mais veneno.

Na Alemanha, as abelhas também estão morrendo em massa, mas não por causa de agrotóxicos. Segundo um trabalho publicado nos Proceedings of the Royal Society, metade das 500 espécies de abelhas silvestres estão ameaçadas de extinção. Estas espécies têm em comum o hábito de percorrer os campos no final do verão. As colheitas costumavam se estender o começo do outono, quando o tempo permitia, e estas abelhas retardatárias tinham alimento suficiente. Agora, com a modernização da agricultura, a colheita termina até antes do final do verão e as retardatárias acabam encontrando menos alimento e morrem. Lá como cá, as abelhas são das principais polinizadoras de uma gama grande de lavouras. Mais um tiro no pé.

Em tempo: Janio de Freitas deu uma cutucada no presidente por querer proibir a importação de bananas do Equador, favorecendo um sobrinho plantador. E aproveitou para contar que, no Brasil, foram liberadas mais de mil moléculas de agrotóxicos desde 2016 e que “nos 42 dias úteis de janeiro e fevereiro, o governo Bolsonaro concedeu 74 novas licenças de agrotóxicos. Mais de 4 por hora de expediente”.

 

São Paulo com pouca água

Choveu bem no Sudeste neste verão, mas ainda assim o Sistema Cantareira está periclitando. Segundo Pedro Luiz Côrtes, da USP, estamos no meio de um El Niño, ainda que fraco, o que fez desabar fortes tempestades sentidas em todo o Sudeste: “Isso não é bom para os mananciais, porque uma chuva intensa não permite sua infiltração no solo. Assim, a recarga do lençol freático e das represas fica prejudicada”. Entre novembro e janeiro, a quantidade de chuva que caiu ficou acima de 80% da média histórica e, em fevereiro, choveu 116%. Côrtes diz que, “mesmo assim, ontem, o nível do sistema estava em 47,2%, pior do que em 2018 na mesma época (52%) e em 2017 (63%).” E, nos dois anos anteriores, o volume acumulado entre janeiro e fevereiro foi maior do que neste ano.” Segundo ele, se a cidade entrar no período da estiagem com pouco mais de 50%, é possível que haja apenas 30% do nível de água do Sistema Cantareira no segundo semestre.

 

São Paulo poluída

O professor Paulo Saldiva, especialista da USP em poluição do ar e seus impactos na saúde humana, fez uma conta bastante preocupante. Ele pegou as medições de poluição feitas pela Cetesb nos últimos tempos e colocou-as contra a régua da Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS atualizou seus padrões de poluição em 2006, coisa que a Cetesb não fez. Assim, por exemplo, em 2015, a Cetesb disse que a concentração de ozônio ultrapassou o limite 36 vezes ao longo do ano. Pela régua da OMS, foram mais de mil. Pela régua da Cetesb, as concentrações de material particulado grosso (até 10 microns) passaram do limite em 5 das 50 estações de medição, enquanto pela régua da OMS estas ultrapassaram o limite em 48 estações de medição. Segundo matéria da Intercept, “com índices subestimados, o governo não se mexe para baixar as concentrações de poluentes” de modo a evitar mortes prematuras. Em 2010, durante uma crise de ar seco na cidade, especialistas sugeriram ao então prefeito Gilberto Kassab e ao governador Alberto Goldman que restringissem a circulação de veículos para tentar minimizar o nível de poluição na cidade, mas os políticos cruzaram os braços. Para o professor Saldiva, os governos têm interesse em atualizar os padrões: “Se os níveis mudam, a poluição vai piorar. O Ministério Público poderá agir mais, e a Cetesb, que não tem estrutura para fiscalizar, acabará tendo mais problemas”.

 

ITDP lança seu boletim sobre a mobilidade urbana

O Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) irá publicar 5 boletins este ano sobre os diferentes aspectos do tema da mobilidade urbana. No mês passado, saiu o primeiro, sob a ótica da mudança do clima, já que o transporte responde por metade das emissões do setor energético do país; na outra ponta, a mudança do clima impacta diretamente o ambiente urbano e seu funcionamento humano e econômico. Segundo o ITDP, “a partir de dados e informações da MobiliDADOS, a publicação apresenta esforços para colocar em prática a estratégia Evitar, Mudar e Melhorar (do inglês Avoid, Shift, Improve). Além de contar com exemplos e indicadores de cidades como Fortaleza, Belo Horizonte, Houston, Recife e Cidade do México, o boletim reúne uma série de estudos e materiais relevantes que discutem o tema.”

 

A Frente Parlamentar Ambientalista da nova legislatura

No final de fevereiro, foi relançada a Frente Parlamentar Ambientalista no Congresso Nacional, com mais de 200 senadores e deputados. Para o deputado Alessandro Molon, atual coordenador da Frente, “o meio ambiente será muito atacado. Tentarão desmontar o licenciamento ambiental e toda a legislação brasileira. Começamos o ano com a dúvida se haveria Ministério do Meio Ambiente. Felizmente isso foi revertido. Mas muitas tarefas ainda virão. Por isso, a renovação da Frente e a chegada de novos parlamentares será importante”. Para Mário Mantovani, da SOS Mata Atlântica, será preciso mobilizar as organizações civis para marcar presença no dia-a-dia do Congresso. O deputado Nilto Tatto concorda, lembrando que “a articulação com a sociedade civil é fundamental para enfrentarmos essa agenda de retrocessos, que ataca conquistas históricas do povo brasileiro”. Molon reforçou dizendo que “a força da sociedade já nos ajudou a segurar muitos retrocessos. Se não tivéssemos esse apoio, certamente teríamos sido atropelados”.

 

Eduardo Viveiros de Castro: “Vocês sabem muito bem o que estão fazendo e são assassinos”

O renomado antropólogo Eduardo Viveiros de Castro disse ao site português Público que o atual governo é formado por “pessoas que têm como objetivo acabar com os índios. Acabar mesmo, rever as demarcações, privatizar as terras, catequizar os índios” e aponta os retrocessos que já entraram na pauta. Apesar disso, o antropólogo mantém um certo otimismo e conta que “o líder indígena Ailton Krenak falou uma coisa bastante sensata. [Disse que] este Governo é terrível, mas a gente está preocupada com vocês, brancos, porque nós, índios, estamos vivendo isso há 500 anos, estamos acostumados, vocês é que não estavam, coitados. Estamos solidários com vocês, com pena dos brancos bons, mas a gente vai escapar desta. Passamos 500 anos escapando disso”.

Já o promotor Marco Antonio Delfino de Almeida fala de um grande perigo para os indígenas: “Eu vejo que por trás deste suposto estímulo à exploração de Terras Indígenas, há o franqueamento de uma quantidade imensa de Terras Públicas para a produção por valores irrisórios pelo agronegócio” e que não se pode chamar isso de ‘parceria’. Ao contrário, “é uma exploração travestida de outro nome (…) É o melhor dos mundos para o agronegócio, porque o arrendamento de terras particulares tem um custo alto, normalmente associado ao valor da soja. Se, por acaso, essa produção quebra, a pessoa acaba sendo duplamente afetada: ela arrenda determinada área pelo valor da soja, ocorre uma seca, o preço da soja sobe, ela não produz e tem que pagar um valor muito alto por conta daquele arrendamento. Isso não acontece, por exemplo, se arrendarem uma Terra Pública – Terra Indígena é Terra Pública – por um valor irrisório, muitas vezes em troca de uma cesta básica ou mil reais. Obviamente, que num cenário de restrição econômica, de restrição de políticas públicas – é nesse cenário que os Povos Indígenas estão inseridos – isso acontece”.

 

Faltam 5 dias para o mundo ver jovens lutando contra a inação frente à crise climática

Nesta 6a feira, 15 de março, jovens de todo o mundo não irão às aulas em defesa do seu futuro. Eles exigem que os líderes de governos e de corporações tomem as medidas drásticas imprescindíveis para evitar o aquecimento global. Veja onde acontecerão as manifestações.

 

Especial da Folha sobre o clima ganha prêmio internacional

A série de reportagens Crise do Clima ganhou o 3º lugar do prêmio de fotojornalismo Pictures of the Year International na categoria Documentário do Ano. As dez matérias saíram no ano passado e abordaram um leque de impactos: de furacões, incêndios e secas em vários países com ênfase, claro, no Brasil. Nossos parabéns à equipe da Folha pelo prêmio.

 

O maior fundo soberano do mundo anuncia desinvestimentos em petróleo e gás

Seguindo os passos dos movimentos de desinvestimento no carvão, o governo da Noruega anunciou que seu fundo soberano, o maior do mundo, venderá participações em 134 empresas que exploram petróleo, gás e seus derivados. A lista inclui petroleiras importantes como as americanas Occidental e Marathon e a chinesa CNOOC. Chama a atenção nenhuma das principais – ExxonMobil e Shell, p.ex. – ter entrado na lista, mas é um primeiro passo, e dado por um fundo criado para gerir os recursos da exploração de petróleo e gás do Mar do Norte norueguês. O New York Times, a Bloomberg e até a Arab News deram a notícia.

 

Província chinesa proibirá veículos movidos a combustíveis fósseis a partir de 2030

Apenas uma semana depois de anunciar a proibição de plásticos de uso único a partir do próximo ano, a província chinesa de Hainan lançou um plano ambicioso para expandir a venda de veículos elétricos. Hainan proibirá, também, a venda de veículos equipados com motores de combustão interna a partir de 2030. Até o final do próximo ano, a província espera ter 30.000 novos veículos elétricos nas estradas e pelo menos 28.000 estações de recarga em operação. O governo também pretende equipar o anel rodoviário da ilha com estações de substituição de baterias, nas quais os motoristas poderão trocar baterias esgotadas por baterias carregadas, um serviço já em vigor na capital da província, Haikou.

O jornal The Paper informou que Hainan está expandindo a geração de energia limpa para responder por 80% da eletricidade da ilha até 2030, embora isso inclua gás natural e nuclear.

 

Chuvas estão derretendo a camada de gelo da Groenlândia ‘mesmo no Inverno’

Estudo publicado na revista Cryosphere revela que as chuvas estão se tornando mais frequentes na Groenlândia e, assim, estão acelerando o derretimento da camada de gelo da ilha. Segundo a BBC, “os cientistas ficaram ‘surpresos’ ao descobrir que as chuvas estão caindo mesmo durante o longo inverno ártico. A enorme camada de gelo da Gronelândia é monitorada constantemente porque contém uma enorme reserva de água congelada (…) A precipitação costuma cair como neve no Inverno – e não como chuva – o que poderia equilibrar qualquer derretimento do gelo no Verão. Os resultados (…) mostram que, na fase inicial do período estudado, costumava chover duas vezes em média nos invernos, enquanto esta frequência aumentou para 12 vezes em 2012”. O MailOnline acrescenta que “os níveis crescentes de precipitação sobre as camadas de gelo da Groenlândia estão acelerando o derretimento de sua superfície – e isso só vai piorar à medida que a mudança climática se acelera (…) [o que aumentará] a quantidade de água que escorre em direção a oceanos e lagos, causando um problema maior do que o dos icebergs que se desprendem da cobertura do continente”. O Inside Climate News também escreveu sobre o estudo.

 

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