Energia solar distribuída: oportunidades de trabalho e economia na conta de luz

energia solar distribuída

Investimento em residências de baixa renda  é solução que reduz danos ambientais, traz mudanças sociais e econômicas

O projeto “Retomada Verde Inclusiva”, com o apoio do Observatório do Clima e  do GT Infraestrutura, promoveu um seminário com especialistas para debater soluções em investimentos verde no curto prazo para a recuperação da economia e publicou o estudo. 

 

A pandemia do coronavírus colocou a conta de energia elétrica no noticiário: a chegada das contas, interrompidas no período em que os funcionários das concessionárias não fizeram a leitura para respeitar a quarentena, provocou filas gigantescas e histórias dramáticas de pessoas sem recursos correndo o risco de terem a energia cortada.

Essa situação poderia ser diferente se o Brasil tivesse investido em energia solar distribuída para residências de famílias de baixa renda. Estima-se que cada consumidor obtém uma economia de R$ 31 por mês por sistema. Como as placas têm uma vida útil de 25 anos, ao final da vida do sistema o consumidor terá economizado quase R$ 10 mil – uma poupança impressionante para as populações de baixa renda.

Como o valor dos painéis solares sofreu uma redução de 43% desde 2012, esse tipo de investimento se tornou bastante competitivo: com R$ 1,05 milhão em 3 meses é possível se instalar sistemas fotovoltaicos completos em mais de 260 mil residências de baixa renda, criando-se 6.300 empregos no curto prazo. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), esse valor corresponde a 3 meses de isenção da cobrança de luz de consumidores de baixa renda cadastrados no programa Tarifa Social.

Apesar das vantagens econômicas, ambientais e sociais, ainda há poucas iniciativas voltadas para as famílias de baixa renda. Em São Paulo, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) instalou sistemas fotovoltaicos em pouco mais de 1.500 unidades e tinha planos para instalar somente mais 8.000. Como o governo do estado de São Paulo extinguiu a CDHU, não se sabe o destino desses planos.

A tarifa média da energia elétrica residencial subiu 72% entre 2010 e 2019, próximo da inflação medida pelo IPCA, que foi de 68%. A do estado do Rio de Janeiro é a segunda mais cara do Brasil, onde, nos últimos dez anos, a fatura paga aumentou 106%, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).. Hoje os consumidores da subclasse Residencial Baixa Renda são beneficiados apenas com a isenção do custeio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e do custeio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA). Dependendo do nível de consumo, eles podem também ter acesso a descontos de acordo com a tabela a seguir:

Desde a regulamentação da resolução 482/2012 pela ANEEL, é permitida a geração compartilhada de energia. Desde então, já foram instaladas mais de 335 mil unidades consumidoras com micro ou minigeração com uma capacidade de 3,2 GWp.

Na favela, moradores se unem para ter acesso à energia solar

A REVOLUSOLAR criou a primeira cooperativa de energia solar distribuída em uma favela no Brasil. Além de ajudar na retomada após a pandemia de COVID-19 através da transição energética, a ação traz benefícios ambientais, sociais e econômicos à comunidade. De acordo com a instituição, o projeto pode ser replicado em outras comunidades.

A favela da Babilônia terá 30 famílias que participarão do projeto-piloto, que contarão com a instalação de placas fotovoltaicas em suas residências. Para a cooperativa, a previsão de resultados dessa ação traria uma economia total de R$ 34 mil ao ano para os participantes, o que representaria entre 50% a 60% da redução das contas de luz das residências.

O modelo de negócios da cooperativa é o de geração compartilhada, ou seja, um grupo de pessoas irá compartilhar os créditos originados a partir de uma usina de geração de energia. Os moradores não terão que pagar o investimento da instalação das placas fotovoltaicas. Os consumidores irão pagar, mensalmente, à cooperativa, um valor equivalente à metade do valor que será economizado nas contas de luz.

A ação inclui cursos de capacitação profissional dos moradores da comunidade para realizar a instalação de placas solares. Desde o início do projeto foram mais de 30 profissionais capacitados. Hoje muitos que fizeram o curso realizam serviços na comunidade, como também trabalham em empresas do setor. Além de fazerem instalações dentro da comunidade, alguns dos profissionais capacitados foram contratados para atuar no mercado e em iniciativas parceiras.

Outras propostas para disseminar a energia solar no Brasil

  • Programa de adoção de Geração Distribuída (GD) em edifícios públicos (existentes e novos).
  • Programa de substituição de geradores a diesel ou a gasolina instalados pelo programa Luz para Todos por sistemas fotovoltaicos. O Programa Mais Luz para a Amazônia é um exemplo: ele irá atender a população residente em regiões remotas dos estados que compõem a Amazônia Legal: (Acre, Amapá, Amazonas,
  • Mato Grosso, Pará, Rondônia, Tocantins e Maranhão),e que ainda não têm acesso a esse serviço público. A tecnologia utilizada será de painéis fotovoltaicos que geram energia elétrica a partir de fonte renovável e podem ser instalados em comunidades que não tem acesso às redes de distribuição convencionais.
  • Fábrica Social Solar para construção popular e comunitária de módulos fotovoltaicos, bem como para capacitação de instaladores. Projeto de Villi Seilert.
  • Na Programa da Celpa (antiga concessionária do Pará, atual Equatorial Energia Pará), com a instalação de painéis fotovoltaicos em 1.806 locais, incluindo casas, escolas e postos de saúde da reserva extrativista Verde Para Sempre, no Pará. A conta fica em torno de R$ 14 por família (com possibilidade de desconto de tarifa social para famílias de baixa renda) para um consumo de 45KW/h —o suficiente para se ter luz, ouvir rádio, carregar celular e computador, assistir à televisão e manter um refrigerador.

Propostas que podem atrasar a adoção da energia solar

  • Revisão das regras do Sistema de Compensação de Energia Elétrica.
  • Revisão da Resolução Normativa 482, de 17/04/2012, que regulamenta a geração distribuída porque a ANEEL entende que ela precisa virar lei.

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ClimaInfo, 3 de setembro 2020.

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