“Procura-se por um líder climático”: tropeços e dificuldades projetam incerteza para a COP27

COP27 líder
Ilustração by Matthew Laznicka

Retrocessos políticos nos Estados Unidos e na Europa levantaram um temor entre ativistas climáticos e observadores das negociações internacionais da ONU sobre clima: o risco de que a COP27, que acontece no Egito em novembro, seja um fracasso retumbante. O medo é justificado: afinal, se os países que se colocam na dianteira da luta contra a mudança do clima não estão cumprindo seu papel de liderança, como podemos ter um resultado minimamente adequado para os esforços climáticos globais?

Como bem colocou o Financial Times, este temor já vinha assombrando alguns analistas desde que a Rússia invadiu a Ucrânia e catapultou o mundo para a pior crise energética desde os choques do petróleo da década de 1970. No entanto, o temor ganhou mais concretude no mês passado depois da Suprema Corte dos EUA retirar autoridade do governo federal para regular as emissões de carbono do setor elétrico. A decisão atingiu em cheio a principal ferramenta da Casa Branca para redução de emissões de gases de efeito estufa, na ausência de um marco legal que segue congelado no Congresso.

Mas a frustração internacional não se resume aos EUA. No outro lado do Atlântico, os países da União Europeia também experimentaram retrocessos recentes em seus esforços climáticos. Na semana passada, por exemplo, o Parlamento Europeu deu sinal verde para a inclusão do gás natural e da geração nuclear como fontes “verdes” dentro das políticas climáticas da UE. Além disso, nos últimos meses, a crise energética na Europa fez com que muitos países que vinham se mobilizando para ampliar a geração renovável de energia adotassem medidas para impulsionar a produção de combustíveis fósseis locais, em especial carvão, para substituir a energia importada da Rússia.

Outro retrocesso foi a decisão do grupo das sete economias mais ricas do mundo, o G7, de recuar de um compromisso anterior para interromper o financiamento a novos projetos de energia a gás no exterior. A proposta, capitaneada pelo governo de Olaf Scholz na Alemanha, foi criticada por Jennifer Morgan, ex-chefe do Greenpeace Internacional e atual enviada alemã para o clima. “Eu gostaria que [a proposta] fosse diferente”, comentou ao Washington Post. Por outro lado, ela também ressaltou que, de acordo com a proposta aprovada pelo G7, os novos projetos de gás natural não poderão ser incompatíveis com os objetivos climáticos do Acordo de Paris – o que, na prática, não diz muita coisa, mas tem algum simbolismo político. “Estamos trabalhando para manter nossas metas ao alcance, mesmo sob condições tremendamente desafiadoras”.

Em tempo: A situação do Egito, anfitrião da COP27, também é preocupante. Como seus vizinhos do norte da África e do Oriente Médio, o país vem sofrendo com os efeitos da guerra na Ucrânia nos preços dos alimentos. Nesse contexto, a questão climática tem sido secundária no Egito, o que se refletiu inclusive em sua nova NDC apresentada na semana passada: o compromisso não apresentou uma meta de mitigação mais ambiciosa e aumentou a pressão para que os países desenvolvidos destravem o financiamento climático para viabilizar mais ações climáticas. O Climate Home fez um panorama das “novas” promessas climáticas do Egito.

 

ClimaInfo, 11 de julho de 2022.

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