Jornalismo periférico na cobertura climática e ambiental

Nesta aula, o jornalista Pedro Borges, editor-chefe da Alma Preta, relata a sua experiência na cobertura jornalística sobre a crise climática e explora as intersecções dessa temática com as comunidades periféricas urbanas. Ele ressalta que muitas vozes não têm o mesmo espaço na grande imprensa e aponta como a questão racial, por meio de um jornalismo qualificado e independente, se faz necessária, sobretudo, na cobertura climática.

    Destaques da aula

  • As populações que vivem em condições de maior vulnerabilidade são as mais impactadas pelas mudanças climáticas e pelos eventos extremos decorrentes delas, como fortes chuvas ou secas prolongadas.
  • O jornalista que desejar cobrir a pauta climática precisa estar preparado para fazer os questionamentos que provoquem reflexões e apontem as interconexões da crise climática com as desigualdades sociais, as questões de gênero e o racismo.
  • O jornalismo tem o papel de assegurar que essas intersecções sejam explicitadas. Para isso, faz-se necessário que o jornalista estude, compreenda os aspectos técnicos e científicos e esteja bem preparado e um olhar apurado, para ir além de apenas receber e repassar dados e informações.

Duração

18 min

Professor(a)s

Pedro Borges é cofundador e editor-chefe da Alma Preta – uma agência de jornalismo especializado na temática racial no Brasil – e jornalista do Profissão Repórter, da Rede Globo. Formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), compõe a escola de samba Camisa Verde e Branco. Borges é co-autor do livro “AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar“, vencedor do Prêmio Jabuti, em 2020, na categoria Artes.

As mudanças climáticas e seus consequentes eventos climáticos extremos, como fortes chuvas ou secas prolongadas, dentre outros, impactam significativamente mais as populações que vivem em condições de maior vulnerabilidade.

Nesta aula, o jornalista Pedro Borges, editor-chefe da Alma Preta – uma agência de jornalismo especializado na temática racial – conta como essa associação entre a crise climática e a desigualdade social se deu em sua trajetória profissional. Borges lembra que, há não muito tempo, ele mesmo tinha uma visão alegórica do tema, relacionando a pauta climática ao derretimento de geleiras nas calotas polares e às queimadas na Amazônia. Porém, a partir de informações e provocações à reflexão obtidas por ele em eventos nos quais participou, compreendeu como a vida das pessoas nas periferias de cidades como São Paulo é diretamente afetada pelo impacto das mudanças no clima.

Um exemplo envolve a crise hídrica. A escassez de chuvas levou, recentemente, o estado de São Paulo a realizar o racionamento de água, por meio do rodízio do abastecimento. Na ocasião, cada bairro passava um período recebendo água da rede de distribuição, e outro com as torneiras secas.

Nas periferias, onde há mais pessoas vivendo na mesma residência – com caixas d’água menores ou nenhuma caixa d’água para armazenamento –, as pessoas ficaram dias sem ter acesso à água limpa para higiene e alimentação. Em bairros de classe média, com menos pessoas utilizando a água e caixas d’água maiores, o rodízio muitas vezes sequer era sentido, pois o volume de água armazenado suportava as necessidades dos moradores.

Naquele contexto, muitos alegavam que se tratava da consequência da falta de chuvas, sem sequer mencionar a interferência humana na tomada de decisões. Avaliando minuciosamente a crise hídrica, entretanto, ficava claro que existiam outros fatores envolvidos, como a falta de vontade política, com obras que poderiam ter sido realizadas e não foram; e a alteração do regime histórico de chuvas provocado pela crise climática.

Borges ressalta que o jornalista que deseja cobrir a pauta climática precisa estar preparado para fazer os questionamentos que provoquem reflexão e apontem a associação da crise climática com as desigualdades sociais, as questões de gênero e o racismo. É preciso compreender que as pautas da justiça social e da justiça climática são indissociáveis.

O jornalismo precisa assegurar que essas intersecções sejam feitas. Para isso, o jornalista deve estudar, compreender os aspectos técnicos e científicos e estar duas vezes mais preparado para ter um olhar apurado, evitando apenas receber e repassar dados.

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