Queimadas na Amazônia e a degradação da floresta

Nesta aula, a geógrafa Ane Alencar aborda os impactos das mudanças climáticas – e da fragmentação florestal em decorrência do desmatamento – na ocorrência e no aumento dos incêndios florestais na Amazônia brasileira. Explica, ainda, como o uso da terra pode fomentar ou reduzir as emissões por desmatamento e a degradação florestal.

    Destaques da aula

  • As queimadas na Amazônia estão predominantemente atreladas ao processo de desmatamento mediante ações humanas. O fogo é colocado de forma artificial, com o objetivo de limpar áreas desmatadas para uso na agropecuária, como explica a professora Ane Alencar.
  • Quase 20% do território brasileiro queimou ao menos uma vez nos últimos 36 anos. Juntos, Cerrado e Amazônia somam 85% das áreas queimadas, sendo 41% deste total relativos apenas à Floresta Amazônica. Além disso, cerca de 16% do bioma amazônico já foi queimado ao menos uma vez no período.
  • A Amazônia é uma floresta úmida que raramente queima espontaneamente.
  • Para que a Amazônia queime, são necessários material combustível e uma fonte de ignição, já que a condição climática favorável para incêndios espontâneos é rara. Uma vez queimada, a floresta leva décadas para se recuperar do fogo. Áreas próximas à região queimada tornam-se mais suscetíveis a pegar fogo. Isso se deve ao fenômeno chamado efeito de borda.
  • Outros dados relevantes são os seguintes: 50% dos focos de incêndio e desmatamento ocorrem em terras públicas, principalmente federais; as terras indígenas são barreiras para o desmatamento e o fogo, sendo que apenas cerca de 8% dos focos de incêndio e 5% do desmatamento ocorrem nessas áreas, que ocupam 25% do território amazônico.
  • Alguns exemplos de medidas de prevenção ao fogo são ações de comando e controle, com fiscalização e punição aos desmatadores ilegais; apoio à economia de base florestal, que gera lucro com a floresta em pé; pagamento por serviços ambientais, com a oferta de recursos para as comunidades que preservam; e apoio econômico e assistência técnica para a produção sustentável nos assentamentos.
  • Para que o desmatamento na Amazônia seja de fato combatido, é preciso pensar em novos modelos de negócio que tenham a floresta em pé como base de geração de riqueza. Enquanto não houver alternativas consistentes promovendo renda sem degradar, o fator econômico seguirá pendendo a balança negativamente, prejudicando os aspectos social e ambiental do tripé da sustentabilidade.

Duração

40 min

Professor(a)s

Ane Alencar é geógrafa, com mestrado em Sensoriamento Remoto e Sistema de Informação Geográfica pela Universidade de Boston e doutorado em Conservação dos Recursos Naturais pela Universidade da Flórida. Atualmente, é Diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Nos últimos 26 anos, Alencar vem trabalhando junto ao corpo de pesquisadores do instituto em iniciativas relacionadas ao mapeamento da dinâmica do fogo, do desmatamento e da degradação das florestas da Amazônia e do Cerrado. É coordenadora do Bioma Cerrado e Fogo dentro da iniciativa Mapbiomas e do Setor de Mudança de Uso da Terra do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases do Efeito Estufa (SEEG).

As queimadas na Amazônia estão predominantemente atreladas ao processo de desmatamento mediante ação humana. O fogo é colocado de forma artificial, com o objetivo de limpar áreas desmatadas para uso na agropecuária, conforme a professora Ane Alencar.

De acordo com análises feitas pelo projeto MapBiomas Fogo, quase 20% do território brasileiro queimou ao menos uma vez nos últimos 36 anos. Juntos, Cerrado e Amazônia somam 85% das áreas queimadas, sendo 41% deste total relativos apenas à Floresta Amazônica. Além disso, cerca de 16% do bioma amazônico já foi queimado ao menos uma vez neste período.

Grande parte deste volume de fogo ocorre em áreas de pasto já degradadas, mas 13% acontece em área de floresta, o que é um dado bastante relevante, já que a Amazônia é uma floresta úmida que raramente queima de forma espontânea.

O regime de fogo de uma floresta úmida sem a intervenção humana deveria ser parecido com, por exemplo, o da Mata Atlântica, onde uma área queimaria apenas uma vez a cada 500 anos. Porém, a curva de recorrência de fogo na Amazônia é parecida com a do Cerrado, bioma muito mais seco.

Para que a Amazônia queime, são necessários um material combustível e uma fonte de ignição, já que a condição climática favorável é rara. Uma vez queimada, a área de floresta atingida pelas chamas leva décadas para se recuperar, além de tornar áreas próximas mais suscetíveis a queimar. Isso se deve ao fenômeno chamado efeito de borda – quando uma área é desmatada, a borda dessa floresta sofre uma mudança na sua estrutura e na sua composição, ficando mais suscetível ao vento e ao ar seco, favorecendo espécies que gostam dessa condição e tornando o ambiente mais vulnerável ao fogo.

É importante observar ainda que, na Amazônia, a maior parte dos incêndios é rasteiro, sendo muito difícil a ocorrência de incêndios de copa. Contudo, esse fogo rasteiro causa muito dano. Por se tratar de um ambiente úmido, o fogo é lento. Assim, permanece em contato com a mesma árvore durante mais tempo, aumentando a chance de ela morrer, mesmo que não seja de imediato. Pode levar até sete anos para uma árvore impactada pelo fogo morrer.

Outros dados relevantes são os seguintes: 50% dos focos de incêndio e desmatamento ocorrem em terras públicas, principalmente federais; as terras indígenas (TIs) são barreiras para o desmatamento e o fogo, sendo que apenas cerca de 8% dos focos de incêndio e 5% do desmatamento ocorrem nelas. As TIs ocupam 25% do território amazônico.

Alguns exemplos de medidas de combate ao fogo são ações de comando e controle, com fiscalização e punição aos desmatadores ilegais; apoio à economia de base florestal, que gera lucro com a floresta em pé; pagamento por serviços ambientais, com a oferta de recursos para as comunidades que preservam; e apoio econômico e assistência técnica para a produção sustentável nos assentamentos.

1
Transição justa: o que é fracking e seus impactos para o Nordeste
2
Mapbiomas – desmatamento na Caatinga
3
Energias renováveis e o potencial no Nordeste
4
Energia e emergência climática
5
Crise hídrica no Nordeste
6
Bacia do rio São Francisco e as mudanças climáticas
7
Impactos das mudanças climáticas no Matopiba
8
Nordeste: secas e desertificação com a emergência climática
9
Seca, desertificação e mudanças climáticas no Nordeste
10
Transição justa: plano de saída ao uso do carvão mineral nas termelétricas
11
Santa Catarina e os eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas
12
Soluções baseadas na natureza em Santa Catarina
13
Sistemas de monitoramento na Amazônia
14
Sistemas costeiros e marinhos da Amazônia
15
Queimadas na Amazônia e a degradação da floresta
16
Recursos hídricos e as mudanças climáticas em Santa Catarina
17
Empreendedorismo e aceleradoras de startups na Amazônia
18
Sociobioeconomia para conectar ‘as Amazônias’ urbana e profunda
19
Mudanças climáticas, Amazônia e sustentabilidade

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